Hotelaria um produto sem estoque

Na década de oitenta a cerca de 20 anos passados, escrevi sobre o tema. Agora, instigado pelo meu irmão Paulo, aceitei a provocação e volto ao assunto que pretende mostrar antes de tudo, que a hotelaria tem um foco muito próprio e aspectos interessantes de serem conhecidos e esse é um deles.
Muito se fala em indústria sem chaminé, indústria do turismo, indústria da hotelaria, indústria não poluente, atividade que melhor distribui renda, etc. A atividade industrial nos leva a pensar em produtos e logicamente podemos imaginar o estoque destes produtos.
Muito ouvirmos falar em produtos perecíveis. Evidente que o grau de perecibilidade varia de acordo com as características do produto e com as condições de estocagem.
Tem pertinência avaliar-se a influência do estoque no capital de giro de uma empresa, pois a sua composição, além das disponibilidades financeiras, pode ser integrada de considerável parcela do estoque, que naturalmente se transformará em faturamento, já que contabilmente compõe o ativo realizável, no balanço patrimonial das empresas.
O estoque pode ser integrado de matérias-primas e outros materiais, produtos em elaboração ou semi-acabados e ainda os produtos acabados ou produtos prontos.
Não se pode esquecer que a estocagem de produtos em todas as suas fases tem implicações de ordem financeira, na medida em que a empresa, ao estocar, está investindo e depende de certo fôlego financeiro para suportar estoques grandiosos. No entanto, se houver problemas na sua produção, mesmo que seja por falta de recursos para manter o ritmo empregado, poderá diminuí-la momentaneamente e valer-se do seu estoque para manter o faturamento inalterado.
Numa crise de mercado em que a oferta é maior que o consumo ou procura, também poderá a empresa utilizar a estocagem, mantendo a produção para venda futura.
Há também aqueles produtos que podem ser produzidos em grande escala, fora da época da safra, estocando-os para venda posterior ou no período em que são mais procurados ou necessários, e aí temos uma infinidade de exemplos ou tipos de produtos que pelas suas características assim se apresentam.
A Hotelaria de um modo geral é um produto de safra e ela se apresenta de várias maneiras. Um Hotel na praia tem sua safra no verão, um Hotel em montanha ou na serra tem sua safra no inverno, assim como os Hotéis nas praias ou aqueles que privilegiam o lazer tem sua safra nas férias, os de capitais executivas tem sua safra fora do período de férias. Assim como estas, outras características deste produto poderiam ser citadas para identificar a safra de cada tipo.
No entanto um Hotel, ao contrário de outros tipos de empresas, tem sua produção restrita à sua dimensão física, pois só é possível vender sua ocupação (hospedagem) no limite do seu número de apartamentos. Trata-se, então, de produto altamente perecível, com duração exata de um (1) dia, sem que se conheçam subterfúgios ou técnicas capazes de fazê-lo durar mais. Uma diária (hospedagem) não vendida hoje também não poderá ser aproveitada amanhã, nem nunca mais. É como se, ao final de cada dia, as mercadorias não vendidas fossem jogadas fora, incineradas, destruídas. Uma temporada de baixa ocupação, por exemplo, jamais será recuperada e o prejuízo é definitivo, irreversível, irrecuperável e derradeiramente desestimulante.
Não se traduza isso num lamento, mas sim num ponto de vista estritamente técnico, para melhor avaliar-se uma categoria, um ramo de atividade econômica que, como as outras, tem seus riscos, e eles são calculados. Mas, é necessário aclararmos alguns pontos para que não se imagine que nesta atividade tudo são flores e que sua rentabilidade não sobre com as intempéries e pertinências próprias da atividade.

Estanislau Emílio Bresolin
Advogado e Presidente da FHORESC